Os bastidores são um espaço que facilmente se identifica no caso do teatro ou de um concerto. Mas são também um espaço e um tempo indefinidos, que se podem materializar nos locais e momentos mais inusitados e improváveis, como ocorre a propósito de uma negociação política ou de uma traição amorosa.
A autoria é um dos mitos mais importantes do século xx. A atual centúria acentua de tal modo esse tique mitológico que ele se tornou caricatura - exagero bizarro fruto de uma intensidade. A obsessão pelo autor foi tão longe a ponto de justificar a sua morte em textos pós-modernos com a mesma solenidade com que antes se havia anunciado a morte de Deus. Talvez sejam a mesma morte: provisória.
O sintoma está no tempo, na cronologia. Possibilita inferir um futuro quando vemos cada momento como o anúncio do seguinte, quer a partir da descoberta de uma lei histórica, quer da intuição que radica na vida contada. O sintoma vale pela adivinha que permite. É quase sempre sinal de uma anormalidade, como se ela existisse. Enuncia a tempestade com surpresa como se as tempestades não fossem comuns. É nesta ambiguidade que de repente tudo é sintoma e doença ao mesmo tempo. A história é uma espiral horizontal.
A revista três três lançou esta palavra a quem nela se quis expressar. Mais uma vez, muito ficou por dizer, inúmeras ideias ficaram-se pelas margens, fora das páginas. Para dentro desta extensão os autores trouxeram-nos temas sociais e políticos, mas igualmente da literatura, pelo olhar da qual é possível compreender interstícios culturais e parabiográficos não objetiváveis num ensaio sem a pena da redução.
O erro depende de quem o vê. Porque também erramos, segundo a nossa autoimagem, lançamo-nos nesta expiação que passa por ser de todos nós. O que é isso de errar, do erro, ou mesmo da errância? Questões que tentamos acertar...
Neste número a cópia leva-nos pelos caminhos do original, do autêntico, da imitação, da verdade, da reprodução; enfim, da legitimidade de tudo aquilo que se dá como singular ou copiado. Do ensaio à poesia.
Os movimentos podem ser sociais, artísticos ou físicos, entre outros que queiramos ter como tal, daí a diversidade de textos que este número traz em torno desta palavra, captando a sociedade, mas também o corpo, a escultura ou a imagem.
Não querendo necessariamente ganhar escala, aqui pensamos e levamos a pensar as diversas perspetivas que a perspetiva tem, mais uma vez desde o pensamento à arte, passando por uma importante componente visual.
No número um aventuramo-nos pela curva, explorando sinais dos tempos e as diversas possibilidades de direção. A partir daqui já temos versão impressa.
O número zero da revista Três três é o número experimental, onde nos damos às primeiras tentativas. Temos como tema "A Cidade", talvez por nascermos com um certo sentido do local, ainda que olhando de dentro para fora.